Art Basel OVR: 20c: O mistério das coisas vivas

Outubro 28 - 31, 2020 

A Bergamin & Gomide participa da Art Basel OVR: 20c dedicada exclusivamente a obras criadas durante o século XX,  de 28 a 31 de outubro de 2020, na plataforma online da Art Basel.

 

Apresentamos obras de Amadeo Luciano Lorenzato, Amélia Toledo, Francisco Brennand, Frans Krajcberg, José Resende, Mira Schendel, Montez Magno,  Oswaldo Goeldi e Rivane Neuenschwander. Uma seleção de obras que partem de elementos naturais ou da observação da diversidade característica do território brasileiro. São obras que procuram contornar o mistério das coisas vivas e oferecer esta experiência fundamental que é o contacto com a natureza.

 

A palavra natureza, em sua origem latina natura, designa o que vai nascer. Ao longo de nossa existência constantemente nos impressionamos com esse poder e autossuficiência, com a beleza espontânea e os ensinamentos que a natureza nos traz, afinal, nascemos e crescemos nela. Se para o Homem a arte é uma manifestação atemporal de sua própria essência, não é de se espantar o constante retorno a esse universo e suas significações.

 

Do mangue escultórico de Frans Krajcberg (1921-2017), às conchas recolhidas no litoral por Amélia Toledo (1926-2017), à riqueza mineral de José Resende (1945); as obras buscam contornar o mistério das coisas vivas, partem de elementos naturais ou da observação destes, especialmente da diversidade característica do território brasileiro.

 

Frans Krajcberg defendia a “sensibilidade do natural”. Para o artista, esse era o sentido maior do seu trabalho: “não posso chegar no meio da rua e começar a gritar”, ele diz, “senão serei preso ou levado pro hospício. Mas, ao recuperar esses troncos queimados e devastados pela violência do homem e criar com toda a expressividade que eles trazem, mostro o seu grito”. Por essa razão, seu conjunto da obra é composto majoritariamente por trabalhos em madeira retorcida, cuja expressividade das curvas e torções figura como uma espécie de manifesto.

 

Artista representado pela galeria, José Resende, ao exercitar o difícil equilíbrio de duas pequenas pedras ligadas a uma pedra-base por barras de ferro, faz com que vejamos três elementos similares e interligados por formas que não se repetem. Nesta escultura, de dimensões mais discretas se comparada com grande parte da produção de Resende, temos um belo exemplo de autonomia e síntese exercidos pelo artista ao longo de sua carreira.

 

Amélia Toledo parte das suas vivências no Rio de Janeiro quando caminhava pela praia recolhendo conchas na areia, o que resultou na criação de diversos trabalhos, entre eles Gambiarra (1976): um varal com fios de náilon e conchas sonoras organizadas de modo a dançar e tocar com o vento. Nesta obra, a artista atribui novas funções e potencialidades a esses elementos naturais que são as conchas ao alinhá-las de forma contrastante à aleatoriedade presente na natureza.

 

As cerâmicas vitrificadas de Francisco Brennand (1927-2019) flertam com um tipo de abstração biomórfica, em que as formas arredondadas nos remetem ao corpo humano, animal e a elementos presentes na natureza. Na obra selecionada, a figura que emerge de uma base arredondada se estende longilínea sem nada representar de modo específico – mas conversando, como de costume, com as formas fálicas que se repetem ao longo de toda a produção de Brennand em obras de diversas dimensões, tanto monumentais quanto singelas.

 

Rivane Neuenschwander (1967), por sua vez, realiza uma espécie de dissecação das suas folhas, deseja ressaltar a estrutura que se resume em linhas e contornos que chamam a atenção pela delicadeza. A artista expôs as suas folhas pela primeira vez na Segunda Bienal de Johannesburg em 1997, ao lado de um outro trabalho em que criou um tapete de sementes de pente de macaco umas coladas às outras. Quando produziu a obra sua prática artística estava voltada para o trabalho com elementos naturais, como folhas secas, cascas de alho, formigas, entre outros.

 

Com uma abordagem múltipla da natureza, desejamos proporcionar ao público - através da arte - essa experiência fundamental que é o contato com a natureza, e, assim, atentar sobre a importância de preservá-la. Como conceberam Frans Krajcberg, Pierre Restany (1930-2003) e Sepp Baendereck (1920-1988) em seu Manifesto do Rio Negro em 1968:

 

Trata-se de lutar contra certas perspectivas ecológicas. Trata-se de lutar muito mais contra a poluição subjetiva do que contra a poluição objetiva, contra a poluição dos sentidos e do cérebro, muito mais do que do ar ou da água.