Lorenzato: Paisagens

Fevereiro 9 - Março 19, 2022

Lorenzato: Paisagens

9 de fevereiro a 19 de março de 2022

 

A Gomide & Co apresenta, com grande entusiasmo, a exposição Lorenzato: Paisagens. Programada para o dia 9 de fevereiro de 2022, ela é fruto de uma longa pesquisa que vem sendo realizada desde a primeira individual do artista no espaço da galeria, em 2014. E você nem imagina que Epaminondas sou eu contou com a curadoria dos artistas Rivane Neuenschwander e Alexandre da Cunha. A iniciativa se desdobrou em exposições nacionais e internacionais de Lorenzato, culminando na individual Amadeo Luciano Lorenzato, realizada em 2019 pela galeria David Zwirner Londres.

 

A exposição Lorenzato: Paisagens, na Gomide & Co, procura revisitar a produção de Lorenzato a partir do tratamento que o artista deu às paisagens de Minas Gerais e arredores, apresentando sua natureza, ruas, vielas e personagens empregando um vocabulário estilizado, geométrico e colorido.

 

Nascido em 1900 em Belo Horizonte, filho de imigrantes italianos, passou a infância na capital recém inaugurada. Aos 20 anos de idade, mudou-se com a família para a Arsiero, Itália, onde participou da reconstrução da cidade que fora devastada durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1925, durante o breve período em que estudou na Reale Accademia delle Arti em Vicenza, foi introduzido à prática de pintura de cavalete. Entre 1926 e 1930, passou por Roma, onde conheceu o pintor holândes Cornelius Keesman, que tornou-se um grande parceiro de observação e o acompanhou em um circuito de bicicleta, passando pelo leste europeu em direção à Ásia, projeto interrompido devido à recusa do passaporte italiano de Lorenzato. 

 

Na década de 1940, Lorenzato passou por Bruxelas e trabalhou em Paris até seu regresso ao Brasil, em 1948. Na cidade de Petrópolis, retomou seu ofício na construção civil, mais especificamente como pintor decorativo de paredes. Em 1949 trouxe a esposa, Emma, e Lorenzo, seu único filho, ao Brasil. Em 1956, em decorrência de um acidente de trabalho, Lorenzato aposentou-se precocemente aos 56 anos. No entanto, o acidente que lhe causou uma aposentadoria prematura não o impediu de dar continuidade às excursões que estimularam seu trabalho no ateliê:

 

Eu saio de casa, pego o papel, faço desenhos, anoto as cores mais ou menos e depois, tendo os croquis, eu pinto. Eu tenho que ver a paisagem, as cores. Se não vejo, não pinto.― Amadeo Luciano Lorenzato, em entrevista concedida a Cláudia Gianetti e Thomas Nölle, Belo Horizonte, jul. 1988.

 

A exposição Lorenzato: Paisagens reúne em torno de 30 pinturas realizadas pelo artista entre 1969 e 1993 e traz como fio condutor seu tratamento da paisagem. Tudo aquilo que ele observava na natureza do campo ou que testemunhava no cotidiano da comunidade era reinventado em paisagens, naturezas-mortas e abstrações carregadas de movimento, como em Sem título (ALL-0236).

 

Tendo em vista a orientação vertical da maioria de suas pinturas, poderíamos dizer que Lorenzato fazia retratos de paisagens. Suas pinturas Sem título, de 1977 e 1976, (ALL-0240, ALL-0223) são vistas naturais, idílicas. Cenários habitados por personagens em atividades de lazer, nos apresentando um cotidiano sensível das coisas. As obras nos induzem a retraçar os percursos do artista, revisitando uma variedade de paisagens imaginárias; rurais, urbanas, marítimas. Figurativas ou abstratas, elas emergem de uma realidade vivida, das caminhadas de Lorenzato, mas também despertam uma memória afetiva, quase nostálgica, do espectador.

 

 

O modo como Lorenzato imprime textura às suas imagens através das ranhuras realizadas com pentes – resquício de uma técnica de finalização de estuques de madeira e mármore – sinalizam uma sofisticação que singulariza sua obra e o distancia de uma ideia de pintor “primitivo”. Em Sem título (1988) (ALL-0259), a vista da Lagoa Santa é incorporada a Serra da Piedade e os cinzas e azuis se fundem em um horizonte estilizado. Nesse sentido, a investigação formal, o minimalismo das formas e a simplicidade com que esse vocabulário se integra à estrutura do quadro, imprimindo movimento às suas nuvens e a vegetação, são ótimos exemplos da imensidão que as pinturas de Lorenzato reivindicam.

 

A exposição também traz um recorte de objetos de uso cotidiano que individualizam a técnica de Lorenzato e esboçam um panorama de sua prática artística a partir do seu uso diferenciado de ferramentas. Junto às telas, seus pentes, pinceis, godês, tintas e pigmentos apresentam o gesto da pintura a partir do que informa seus entornos.