Do dia 10 ao 12 de fevereiro, a Gomide & Co participa da Art Basel Viewing Rooms ‘OVR:2021’ com uma seleção de trabalhos de Maria Lira Marques realizados ao longo de 2021.
Maria Lira Marques (1946) faz parte de uma longa linha de artistas do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, entre os quais estão Isabel Mendes da Cunha, Noemisa Batista dos Santos e Ulisses Pereira Chaves. Como muitos destes ceramistas, ela começou nas artes visuais trabalhando com o artesanato utilitário pelo qual a região é conhecida. Entretanto, como não se considerava hábil o suficiente para a olaria tradicional, começou a desenvolver suas próprias criações experimentais, buscando inspiração nas raízes da cultura popular. Nos anos 70, Maria Lira começou a expor suas obras de cerâmica, como bustos, presépios e máscaras antropomórficas, evocativas de sua herança africana e indígena.
Desde os anos 90, ela se dedica ao corpo de trabalho pelo qual é mais conhecida, Bichos do Sertão, pinturas de animais imaginários que compõem um vasto bestiário, caracterizado pela integração de sua linguagem gráfica com a paisagem do sertão. Estas obras são desenhadas com uma mistura de argila e cola sobre pedras do rio, utilizando uma paleta cromática de terra e texturas orgânicas, resultando em superfícies pictóricas de forte impacto visual.
Para Lira, "a arte africana parece ser a das pessoas que estão lutando: é tudo espadas, flechas... e quando olho para outra arte [européia], todo mundo está ali sentadinho, parece que tem mais aquela tranqüilidade. A outra [africana] parece que mexe mais com a gente". Um outro trabalho desta etapa inicial, segundo a artista, narra a marginalização que ela encontrou ao longo da construção de sua carreira artística: Me ajude a levantar (s.d.), apela ao mesmo tempo para a solidariedade entre as pessoas e para que elas não desistam de suas lutas. Este foi também o título dado ao livro publicado em 1983, com um longo testemunho Lira, é uma peça fundamental para compreender a sua jornada.
Parafraseando a artista, é essencial continuar a luta para que estes esforços vão além de uma perspectiva momentânea, entendendo-os como o início de um processo mais amplo que leva décadas para ser concluído, depositando estruturas coloniais muito arraigadas.