Para sua primeira participação na ARCOmadrid, a Gomide&Co apresenta uma seleção especial de obras de León Ferrari (Argentina, 1920–2013), contemplando sua fase mais madura, desde meados da década de 1980 até o final da década de 2000. Ganhador do Leão de Ouro na 52a edição da Bienal de Veneza (2007), Ferrari é autor de uma ampla produção, composta por textos, desenhos, pinturas, colagens, arte postal, esculturas, instalações sonoras, performances e filmes, marcada pelo questionamento dos dogmatismos religiosos e dos autoritarismos de Estado. Seu trabalho foi exposto nas principais instituições e museus de arte moderna e contemporânea do mundo.
Um dos principais destaques da seleção é a obra La civilización occidental y cristiana (2010), edição limitada baseada na consagrada obra homônima de 1965. Naquela época, sob o impacto da Guerra do Vietnã, Ferrari criou o que seria sua obra mais emblemática: uma escultura em escala humana de uma estátua de Jesus Cristo crucificado anexada à reprodução de um bombardeiro norte-americano. Esse trabalho tornou-se um marco no debate latino-americano e global sobre a relação entre arte e política a partir da década de 1960. Também marcou o início de uma série de produções em que Ferrari examinou criticamente a religião como uma força fundamental por trás das práticas de violência ao longo da história.
Entre esses grupos de obras, destacam-se suas Relecturas de la Biblia, iniciadas em 1983; seus brailes, realizados a partir de 1995; e os objetos de pequena escala que compõem Ideas para infiernos, assemblages do artista iniciadas nos anos 2000 – conjuntos de trabalhos reunidos na seleção a ser apresentada na feira. O texto crítico da apresentação é assinado por Lisette Lagnado, curadora e crítica de arte estudiosa da produção do artista, que comenta: “O lúdico ronda as peças desse prodigioso artista, conferindo-lhes uma leveza que desafia os tempos mais sombrios. Se essa extensa pluralidade dos meios remete a um dos veios mais fecundos do experimentalismo, a obsessão na defesa dos direitos humanos lhe assegura, por outro lado, um vínculo inalienável com o conceitualismo latino-americano.”
