Para a Art Basel Miami Beach 2025, a Gomide&Co apresenta uma seleção especial de obras que parte de uma reflexão sobre a natureza, a recuperação de elementos da ancestralidade e o modo como os artistas observam a paisagem – natural e construída – ao seu redor. As obras reunidas articulam diferentes temporalidades e formas de pertencimento, propondo um diálogo entre o território físico e o simbólico. A natureza aparece não apenas como cenário, mas como presença ativa e sensível, que molda gestos, memórias e modos de habitar. Nessa relação, o fazer artístico torna-se também um gesto de escuta e reconhecimento, em que o ambiente é compreendido como extensão do corpo e da história.
A proposta enfatiza como o olhar sobre a paisagem ultrapassa a representação do visível para se tornar uma investigação sobre identidade e transformação. Ao incorporar referências da ancestralidade, tradições locais e signos do cotidiano, as obras revelam tensões entre permanência e mudança, natural e urbano, passado e futuro. O resultado é um conjunto que evidencia a vitalidade da arte como campo de recomposição, no qual matéria, cultura e espiritualidade se entrelaçam, e convida o público a revisitar a ideia de paisagem não como limite, mas como espaço vivo de coexistência e invenção.
Além da seleção principal, a galeria apresenta também um projeto de Kabinett dedicado a Glauco Rodrigues (1929–2004), um dos mais instigantes cronistas visuais da cultura brasileira. A seleção foca em obras produzidas entre o fim dos anos 1960 e o início dos 1970, período em que o artista passou a tensionar criticamente os símbolos nacionais, as narrativas oficiais da história do país e os efeitos da cultura de massa. Autodidata, Rodrigues iniciou a carreira nos clubes de gravura de Bagé (sua cidade natal) e Porto Alegre, desenvolvendo ao longo das décadas uma obra que atravessa o modernismo tardio. Em sua fase brasilianista e antropofágica, o artista apropria-se das cores fluorescentes da publicidade e dos modos de reprodução gráfica para desmontar – e não exaltar – seus signos. Atualizando o gesto antropofágico de Tarsila do Amaral e dos modernistas, Rodrigues devora ícones e narrativas canônicas para revelar um Brasil contraditório, plural e impuro. Em um contexto em que bandeiras e símbolos nacionais voltaram a ser instrumentalizados por discursos conservadores, sua obra reafirma o poder da arte em expor – com humor e lucidez – as contradições do imaginário coletivo brasileiro.
Artistas: Jaider Esbell, Chen Kong Fang, León Ferrari, Julia Isidrez, Lorenzato, Maria Lira, Roberto Burle Marx, Cildo Meireles, Tiago Mestre, Antonio Ballester Moreno, Nilda Neves, Lucia Nogueira, Massao Okinaka, Abraham Palatnik, Lygia Pape, Gerardo Petsaín Sharup, Heitor dos Prazeres, Gerhard Richter, Glauco Rodrigues, Mira Schendel, Shoko Suzuki, Rirkrit Tiravanija, Rubem Valentim, Adriana Varejão, Megumi Yuasa.
| INQUIRY |
