Amadeo Luciano Lorenzato Brasil, 1900-1995

Amadeo Luciano Lorenzato

Pintor autodidata e

Franco atirador 

Não tem escola

Não segue tendências

Não pertence a igrejinhas

Pinta conforme lhe dá na telha

Amém

 

1948

Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995), ao comentar sobre seu processo criativo, declara: “Eu tenho que ver a paisagem, as coisas. Se não vejo, não pinto.”[1] E o artista, a propósito, viu muito: nasceu e morreu praticamente junto com o século XX. O trânsito que experimentou entre o Brasil e a Itália permitiu que acompanhasse tanto a construção de uma capital – Belo Horizonte – quanto a reconstrução de cidades devastadas – como a Arsiero do pós-guerra, onde trabalhou entre 1920 e 1924. O conjunto da obra de Lorenzato, contudo, não se volta necessariamente para a ascensão das metrópoles industriais nem para os grandes embates da civilização. Ainda que tenha acompanhado fatos históricos influentes, o artista decidiu dedicar sua pintura a motivos singelos abordados com originalidade e vigor.

 

É interessante pensar que Lorenzato viu todo o século XX acontecer, mas escolheu olhar para o lado comum (tanto no sentido do banal, quanto do elemento compartilhado) da existência. É como se, de alguma forma, a escala das vivências cotidianas e a perenidade da natureza pudessem aplacar a barbárie presente em grandes disputas de narrativa e poder, sendo esse o cerne dos maiores conflitos que acompanhou. Após seu retorno ao Brasil em 1948, dedica-se cada vez mais à sua criação artística, constrói a sua casa no bairro Cabana, na periferia de Belo Horizonte, em 1960, e é lá que produz grande parte da obra que conhecemos hoje. Por vezes, uma borboleta em seu quintal bastava para que nascesse uma pintura – tantas outras vezes, longas caminhadas nutriam o olhar do artista-andarilho que, como todo grande criador, percebia e transfigurava à sua maneira o extraordinário do cotidiano.

 


[1] Circuito Atelier: Lorenzato. Belo Horizonte: C/Arte Editora, 2004, p. 30-31.