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Primeira série que apresentou ao público, as pinturas da série Acontecências de Teresinha Soares marcam uma inflexão na carreira da artista. O neologismo do título leva à percepção dos acontecimentos corriqueiros, às crônicas jornalísticas que estavam em voga naquele período. É a primeira vez que Teresinha emprega o léxico em suas obras, a partir da técnica da colagem e definindo bem sua paleta de cores, que variam entre brancas, pretas, vermelhas e verdes. As sentenças derivam muitas vezes de recortes de manchetes de jornal, usualmente reportando a violência contra as mulheres tantas vezes naturalizada. A artista, no entanto, às escova a contra-pelo: são as próprias sentenças que nos trazem os absurdos da violência de gênero e da estereotipização feminina.

Sem romper com a bidimensionalidade do suporte, as obras conseguem sugerir dois espaços, um interno e um externo. Em Um alegre teatro sério, trabalho que dá nome à exposição, são as portas que nos servem de mediadoras entre o que é proibido e o que é fortuito. O corpo feminino aparece duplicado – ora mais curvado e talvez reprimido; ora expansivo e sem amarras. Frases como “de luz apagada”, que aparece logo abaixo de um abajur iluminado, ou “há os outros naturalmente contracenam com rostos que se beijam e o que parece ser uma máscara de teatro. A obra faz pensar no teatro da corporalidade feminina, sujeita a tantas proibições, jogos de simulação e não ditos. Permite introduzir também o imaginário erotizado dessa artista que performa dentro e fora das telas.

[EN]
The paintings of the series Acontecências by Teresinha Soares, the first series she presented to the public, mark a turning point in the artist's career. The neologism of the title leads to the perception of the ordinary events, to the journalistic chronicles which were in vogue in that period. It is the first time that Teresinha uses the lexicon in her works, from the collage technique and defining well her palette of colors, which vary between white, black, red and green. The sentences are often derived from newspaper headline clippings, usually reporting the violence against women that is so often naturalized. The artist, however, brushes them against the grain: it is the sentences themselves that bring us the absurdities of gender violence and female stereotyping.

Without breaking with the two-dimensionality of the support, the works manage to suggest two spaces, one internal and one external. In Um alegre teatro sério, the work that gives the exhibition its name, it is the doors that serve as mediators between what is forbidden and what is fortuitous. The female body appears duplicated - sometimes more curved and perhaps repressed; sometimes expansive and untethered. Phrases like "de luz apagada" ("with the light off"), which appears just below a lighted lampshade, or "há os outros naturalmente" ("there are the others naturally") are set against kissing faces and what appears to be a theater mask. The work makes one think about the theater of female corporality, subject to so many prohibitions, simulation games, and unspoken. It also allows us to introduce the eroticized imaginary of this artist who performs on and off screen.