



Antonio Ballester Moreno Espanha, 1977
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PT
A pintura como caminho para a experiência coletiva - Taísa Palhares
Em sua primeira exposição individual no Brasil, após a participação na 33a Bienal de São Paulo (2018), o artista espanhol Antonio Ballester Moreno apresenta um conjunto de telas de grandes dimensões, em que explora a ideia de “organismo vivo” por meio da combinação de formas sintéticas, cores primárias e a figuração simbólica da natureza. O ambiente expositivo é construído como um plano-sequência no qual o visitante é convidado a vivenciar a percepção como um contínuo visual em que a paisagem se forma a partir da recombinação das partes, instaurando uma narrativa que se desdobra no aqui e agora temporal. Vistas em conjunto, as composições revelam uma espécie de sistema de signos, no qual os elementos visuais funcionam como polos opostos em nítida relação de complementaridade: luz e sombra, negativo e positivo, noite e dia, quente e frio, alto e baixo, claro e escuro, retilíneo e curvo etc.
Em seu processo produtivo, Ballester utiliza a técnica da colagem em papel como ponto de partida para sua criação, realizando pequenos ensaios de paisagens que posteriormente se traduzem nas composições de suas telas. Como procedimento, a colagem é bastante simples e acessível a todos e se conecta com os jogos lúdicos das brincadeiras infantis que o artista pesquisa há alguns anos. Como atividade de aprendizagem, a combinação de cores e formas tem um papel central no desenvolvimento de algumas pedagogias modernas em que a criança é estimulada a experimentar o mundo por meio da percepção e da atividade de simbolização da realidade. Essa capacidade de reinvenção ou reinterpretação do universo visual mediante figuras sintéticas faz parte de uma habilidade natural que se atrofia na vida adulta, representando uma perda importante de compreensão do mundo pela via dos signos. De certa maneira, ao resgatar tal técnica para feitura de suas pinturas, ele aposta na utopia de uma linguagem artística universal que propicia a sensibilização dos indivíduos contemporâneos, mergulhados no tempo acelerado e angustiante das sociedades neoliberais, nas quais vigora o processo alienado de aprendizagem com base na relação irrefletida entre estímulos e respostas instantâneas.
Ballester compreende a pintura como reafirmação de uma prática artesanal e coletiva, na medida em que não interessa a recuperação do mito do pintor-fetiche e sua individualidade heroica. É importante notar que ele trabalha com telas de juta – que são tingidas pelo avesso –, agregando um caráter material quase rústico à superfície pictórica. Ao mesmo tempo, a repetição e recombinação de formas lembram o universo decorativo de tradições não ocidentais, com suas padronagens florais e vegetais estampadas em tapeçarias, tecidos e presentes também nos elementos arquitetônicos. Nesse sentido, sua abordagem busca mais do que a fabricação de objetos de arte, ela funciona antes como uma forma de resistência à fragmentação da experiência na contemporaneidade. Ballester propõe, através de uma linguagem tão antiga como a da pintura, uma reconexão com a natureza, enfatizando a importância de uma experiência coletiva e de um espaço partilhado. Suas obras convidam à reflexão sobre a percepção e o sentido comunitário, em um mundo cada vez mais marcado pela alienação tecnológica.
EN
Painting as a path to collective experience - Taísa Palhares
For his first-ever solo exhibition in Brazil, after participating in the 33rd Bienal de São Paulo (2018), the Spanish artist Antonio Ballester Moreno presents a set of large paintings in which he explores the idea of “living organism” through combinations of synthetic shapes, primary colors, and symbolic natural figurations. The venue is laid out like a continuous shot, inviting visitors to experience perception as a visual continuum in which the landscape comes together through a recombination of the parts, creating a narrative that unfolds in the here-and-now time. Viewed in tandem, the compositions reveal a sign system of sorts where visual elements function as opposite poles in a clearly complementary relationship: light and shade, negative and positive, night and day, hot and cold, tall and short, clear and dark, straight and crooked, etc.
In his work process, Ballester employs paper collage technique as a launchpad, creating small landscape essays that eventually translate into the compositions in his canvases. From a procedural standpoint, collage is fairly simple and accessible to everyone, and it speaks to the children's games the artist has been researching for a few years now. As a learning experience, the combining of colors and shapes is central to the development of modern pedagogical approaches which encourage children to experience the world through perception and reality symbolization activities. This ability to reinvent or reinterpret the visual universe through synthetic figures is part of a natural skill set that becomes atrophied in adulthood, representing a major loss in world comprehension by way of signs. In a sense, by reviving this technique in creating his paintings, he makes a bet on the utopia of a universal art language which sensitizes contemporary individuals immersed in the fast-paced, angst-inducing time of neoliberal societies, whose alienated learning process revolves around the mindless relationship between instant stimuli and responses.
Ballester approaches painting as the reaffirmation of artisanal, collective practice, to the extent that he is not interested in revisiting the myth of the fetish-painter and his heroic individuality. It should be noted that he works with jute canvases – which are dyed from the back –, which lend a near-rustic material character to the pictorial surface. At the same time, his repetition and recombination of forms hark back to non-Western decorative traditions, with flower and plant motifs imprinted on tapestry and fabric as well as in architectural elements. In this regard, more than just aiming to craft art objects, his approach acts as a form of resistance against the fragmentation of experience in contemporaneity. By using a language as old as painting is, Ballester proposes a reconnection with nature, emphasizing the importance of collective experience and shared space. His works invite reflection on perception and the sense of community, in a world ever more marked by technological alienation.