[PT]

Herdando da lógica agroflorestal os cultivos da terra, o artista mineiro Advânio Lessa (1981) entende esse saber e seu trabalho artístico como alternativas possíveis para lidar com as atividades humanas nocivas ao meio-ambiente. Sua produção é influenciada pela cosmovisão quilombola1, para a qual a terra e os vivos devem ser vistos como um amalgama. As esculturas Sem título (da série Vida) são feitas a partir de recursos naturais, onde o artista combina raízes e cipós de grande escala, ornamentando e justapondo uns aos outros. Com efeito, os trabalhos de Advânio jogam com as emendas, os lugares limites da matéria, evidenciando os processos de fusão da madeira, das tramas na cestaria, dos cipós e suas relações. A escolha por trazer o seu repertório doméstico para as obras também pode ser vista como uma espécie de denúncia contra o desmatamento, na medida em que o artista utiliza matéria orgânica que pode se tornar compostagem. Como o próprio artista afirma: “Eu sou filho de tropeiro e cesteiro. Vivi da mata a vida inteira, sem acabar com o mato! Tem mato pra todo mundo aqui ainda!”.

1 No Brasil colonial, os quilombos eram assentamentos fortificados de escravos negros fugidos da escravidão, dotados de divisões e organização interna. Após o fim da escravidão no país, em 1888, o conceito de quilombo foi redefinido, pois eles continuaram a existir fora do contexto histórico em que surgiram. Na contemporaneidade, o quilombo é um espaço de resistência com direito à posse de suas terras e à manutenção de sua própria cultura. É um tipo de organização de pessoas que ocupam a terra na forma de uso comum, com seu uso obedecendo à sazonalidade ambiental. Os habitantes dos quilombos são chamados de quilombolas, que atualmente são descendentes de escravos fugidos, reconhecidos desde 2007 pelo governo brasileiro como uma comunidade tradicional - realizam práticas cotidianas de produção com desenvolvimento sustentável - com um modo de vida ligado ao meio ambiente e uma cultura que se diferencia da cultura local predominante.

[EN]

Inheriting the logic of agroforestry in the cultivation of the land, the artist Advânio Lessa (1981) from Minas Gerais understands this knowledge and his artistic work as possible alternatives for dealing with human activities that are harmful to the environment. His production is influenced by the Quilombola[1] cosmovision, for which the land and the living should be seen as an amalgam. The Untitled sculptures (from the Vida series) are made from natural resources, where the artist combines large-scale roots and vines, ornamenting and juxtaposing them with one another. Advânio's works play with seams, the limits of matter, highlighting the fusion processes of wood, basketry weaves, vines, and their relationships. The choice to bring his domestic repertoire into his work can also be seen as a kind of denunciation of deforestation, in that the artist uses organic matter that can be composted. As the artist himself says: "I'm the son of a muleteer and a basket weaver. I've lived off the forest all my life, without wiping it out! There's still bush for everyone here!".

[1] In colonial Brazil, the quilombos were fortified settlements of black slaves who had escaped from slavery, endowed with divisions and internal organization. After the end of slavery in the country in 1888, the concept of quilombo was redefined, as they continued to exist outside the historical context in which they arose. In modern times, a quilombo is a space of resistance with the right to own its land and maintain its own culture. It is a type of organization of people who occupy the land in the form of common use, with its use obeying environmental seasonality. The inhabitants of the quilombos are called quilombolas, who are currently the descendants of escaped slaves, recognized since 2007 by the Brazilian government as a traditional community - they carry out daily production practices with sustainable development - with a way of life linked to the environment and a culture that differs from the predominant local culture.