Marcel Broodthaers: Décor

Abril 2 - Maio 28, 2022

Marcel Broodthaers: Décor

2 de abril – 28 de maio de 2022

 

A Gomide&Co tem o enorme prazer de apresentar Marcel Broodthaers: Décor, a primeira exposição individual do artista belga no Brasil. Com abertura marcada para o dia 2 de abril às 11h, a mostra fica aberta ao público até dia 28 de maio de 2022. A exposição apresenta um conjunto de 37 obras realizadas entre 1963 e 1975 por Broodthaers, que já teve

retrospectivas de seu trabalho no MoMA, em Nova York, no Museu Reina Sofía, em Madrid, além de um vasto histórico de mostras individuais em instituições como a Tate Gallery (Londres), Hamburger Bahnhof (Berlin), Walker Art Center (Minneapolis), Jeu de Paume (Paris), entre outras.

 

Marcel Broodthaers (1924-1976) nasceu em Bruxelas, Bélgica, e trabalhou substancialmente como poeta até seus 40 anos quando, em 1964, proclamou-se artista visual. Nos breves 12 anos em que atuou como artista antes de sua morte prematura em 1976, criou um amplo e influente corpo de trabalho constituído de seus primeiros objetos, realizados a partir de

cascas de mexilhão, ovos e livros de sua própria poesia à seus projetos mais ambiciosos, como o Musée d’Art Moderne – Département des Aigles e seus distintivos Décors. Estes últimos trouxeram configurações expositivas sem precedentes, um dos motivos pelo qual Broodthaers segue exercendo grande influência sobre uma extensa gama de artistas,

sendo de fundamental relevância para o discurso da cultura e sociedade contemporânea em geral.

 

Em 1968, Broodthaers fez a declaração de que não era mais artista, auto nomeando-se diretor de seu próprio museu. O Musée d’Art Moderne – Département des Aigles [Museu de Arte Moderna - Departamento de Águias] era um museu ficcional no qual em vez de dedicar-se à exposição de objetos de arte, Broodthaers mirava na produção de materiais análogos às atividades de um museu, como documentações, cartazes, convites, publicidade e finanças.

 

Ao assumir a posição de uma figura de autoridade – diretor do museu –, Broodthaers questionou as formalidades e problemáticas estruturais dos museus, assim como os critérios de legitimação de uma obra de arte, proporcionando um comentário rico sobre o papel das instituições na sociedade. Ao longo de quatro anos, o Museu funcionou circunstancialmente, com passagens itinerantes por sete cidades. Essas passagens funcionaram como setores ou seções [“sections”], e constituíram 12 apresentações temporárias que não se limitavam à uma só linguagem, mas buscaram sintetizar a complexidade do trabalho de Broodthaers através de filmes, obras de arte, objetos, catálogos e convites de exposição. Três de suas “sections” foram destaque na

documenta 5 de Kassel, em 1972: a Publicity Section, a Modern Art Section e a Gallery of the 20th Century.

 

Ao concluir seu mandato como diretor do Musée d’Art Moderne – Département des Aigles, em 1972, Broodthaers declarou que estava retomando suas atividades como artista visual. Ele sinalizou seu retorno apresentando sua série de Peintures Littéraires [Pinturas Literárias], pinturas compostas de palavras impressas sobre tela nas quais suas

decisões estéticas, que incluíam a escolha da tipografia, cor do texto e densidade de impressão, derivam tanto do mundo da produção de livros quanto do da produção de arte.

Outro trabalho desse período, La Salle Blanche, de 1975 – adquirido pelo Centre Pompidou em 1989 e exibido na 22ª Bienal de São Paulo: Ruptura com o suporte em 1994 – faz referência direta ao Musée d’Art Moderne – Département des Aigles. Trata-se de uma reprodução em escala real do estúdio onde o projeto do museu nasceu, em 1968. Nela, as paredes e o teto foram repletas de inscrições de palavras (em francês) que evocam o mundo da arte, como: “toile” (tela),“huile” (óleo), “composition” (composição), “ombre” (sombra), entre outras. O recorrente tratamento pictórico de palavras reforça a importância da escrita e da palavra no conjunto da obra de Broodthaers.

 

“O que é pintura? Bem, é literatura. O que é, então, literatura? Bem, é pintura.” – Marcel Broodthaers, What is Painting…? c. 1963 em Marcel Broodthaers (London, Tate Gallery, 1980), p.27.

 

Um dos destaques da exposição é a instalação Ne dites pas que je ne l’ai pas dit de 1974, composta por duas palmeiras, um papagaio do Congo, uma vitrine contendo duas cópias do catálogo de sua exposição homônima na Wide White Space Gallery de 1966 – uma cópia de 1966 e uma reimpressão de 1974 –, ambientada por uma gravação do artista lendo o poema de sua autoria Moi Je dis Je Moi Je dis…. Em seus últimos anos de vida, Broodthaers começou a reunir obras mais antigas com obras recentes, adicionando a elas novos elementos. Esse movimento culminou em trabalhos instalativos que acabaram atuando como retrospectivas de seu próprio trabalho, subvertendo, de forma espirituosa, o conceito de retrospectiva e aludindo à mutabilidade da narrativa do artista em relação ao contexto e circunstância na qual a obra se encontra.

 

Assim como o vídeo La Pluie (projet pour un texte) de 1969 – exibido no Brasil em 2006 na 27ª Bienal de São Paulo: Como viver junto – onde Broodthaers tenta obstinadamente escrever um texto com uma caneta tinteira debaixo de chuva, até dar-se por vencido, é por meio dessa ironia, recorrente em seus trabalhos, que Broodthaers introduz um comentário crítico sobre a sinceridade do artista enquanto produto das circunstâncias e contradições do produzir artístico, de suas revoluções e seus paradoxos, contestando a idéia de autenticidade, como na série de serigrafias La Signature (1969), de tiragem ilimitada – assinada – da reprodução repetitiva de sua assinatura.

 

A exposição também apresenta alguns exemplares da série Poèmes Industriels que o artista criou entre 1968 e 1972 enquanto diretor do Musée d’Art Moderne – Département Les Aigles. São placas que utilizam a imagem como texto e o texto como imagem e sobre elas, Broodthaers chegou a dizer: “Saiba que essas placas são feitas assim como se fazem

waffles”. Sua fala não é tão arbitrária como parece, pois por tratarem-se de placas feitas de plástico fundido injetado (termoformagem à vácuo) –técnica industrial muito utilizada para fabricar anúncios publicitários, assim como o clássico prato belga, feito de uma mistura de farinha com ovos prensada entre duas superfícies metálicas ardentes– Broodthaers tece mais um comentário crítico sobre os efeitos da publicidade e da produção em massa. A série Poèmes Industriels foi recentemente contemplada em uma exposição inédita no WIELS, em Bruxelas, que reuniu 120 placas, além de mais de cem documentos, desenhos e cartas. 

 

A exposição Marcel Broodthaers: Décor na Gomide&Co, é uma oportunidade de presenciar o maior agrupamento de obras do artista realizado no país desde 2006, ano em que Broodthaers figura como artista essencial para a proposta da 27a Bienal de São Paulo, com a curadoria de Lisette Lagnado. Desse modo, esperamos reapresentar ao público brasileiro a fértil produção de um artista sem precedentes, que elaborou e subverteu o pensamento e a prática da arte de forma perspicaz, que se mantém atual até os dias de hoje.

 

Após organizar importantes exposições de artistas como Joseph Beuys, Bruce Conner, Martin Kippenberger, entre outros, a exposição de Marcel Broodthaers na Gomide&Co reafirma o comprometimento da galeria em manter um diálogo aberto com expoentes da arte conceitual.