Niobe Xandó & Ernesto Neto
09.06 — 30.07.2022
A Gomide&Co e a Fortes D'Aloia & Gabriel têm o prazer de apresentar Niobe Xandó & Ernesto Neto. Na exposição, as pinturas de flores fantásticas de Niobe Xandó (1915-2010) dialogam com as obras de crochê e materiais orgânicos de Ernesto Neto (1964). Um ensaio crítico de Julia de Souza acompanha a mostra com abertura marcada para o dia 09.06, das 16h às 20h, na Gomide&Co (Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1052).
O encontro inédito oferece ao público uma leitura singular de ambos os artistas. As telas de Xandó desenvolvidas entre a década de 1950 e 1990 e os trabalhos de caráter sensorial de Neto dialogam não somente entre si, mas também com a casa modernista de Flávio de Carvalho. Esse recorte de obras evidencia uma espiritualidade e um encantamento que os artistas estabeleceram em suas práticas, cada um em sua particularidade. Encontra-se a todo momento um espelhamento da ordem da natureza que revela a vontade acentuada de metamorfosear o mundo.
Desde o início da década de 1940, Xandó investigou o misticismo da fauna e da flora quando realizou trabalhos sobre crânios de macacos mortos recolhidos durante viagens ao litoral de São Paulo. Nos anos posteriores, suas pinturas em troncos de árvores revelam um tipo de experimentação pictórica que assume a residualidade orgânica como matéria e imagem, pavimentando o caminho para a série das Flores Fantásticas. Em suas pinturas, flores e plantas são apresentadas em proporções agigantadas, imbuídas de uma organicidade explosiva. Suas plantas são carnívoras na medida em que devoram a organização racional e científica. Ao representar uma vegetação mutante de espécies místicas e aves amorfas, a artista subverte a ordem natural das coisas e suas plantas se assumem fantasia. Associada a um “primitivismo” da imagem, seu vocabulário pode ser visto como o oposto: uma reinvenção das qualidades naturais, tão sensíveis à experiência humana.
Em sua prática, Neto desafia e expande o vocabulário da escultura, explorando conexões formais e simbólicas entre diferentes materiais, com a força da gravidade como elemento estrutural. Suas obras operam como organismos vivos em constante transformação. Investigando a mutação dos elementos da natureza por outras vias, com o uso de especiarias e frutos secos dentro das obras — cúrcuma, cominho, gengibre, pimenta e nozes —, o artista entende a organicidade da experiência através do uso desses materiais e de uma operação que incorpora um “doar-se” por parte do espectador. Nesse sentido, seus trabalhos requerem uma disponibilidade, e o imaginário que elabora é sensível e compartilhado.
A interlocução entre as produções de Xandó e Neto reforça o exercício de relacionar corpos de trabalho de artistas de épocas e contextos distintos, mas que ainda assim se dedicaram a questões essenciais, da ordem da natureza e daquilo que temos de mais íntimo: a subjetividade e a vontade de fabular e tornar a experiência humana algo mágico.