A Gomide&Co apresenta CELESTE, primeira exposição individual da artista Luiza Crosman em galeria comercial. Com a abertura marcada para o dia 13 de agosto, das 11h às 17h, a mostra apropria-se temporariamente do novo endereço da galeria, na Avenida Paulista, 2644. Concebida em meio à obra, busca estabelecer uma relação entre o caráter processual e infraestrutural do trabalho de Luiza Crosman e a gênese de um ambiente que encontra-se em trânsito. A inauguração oficial da nova sede da Gomide&Co está prevista para dezembro de 2022.
O uso do espaço ainda desconfigurado proporciona uma liberdade de organização dos próprios limites da galeria. Desse modo, Luiza Crosman investe sobre uma experiência subversiva do local, que nos próximos meses assumirá configurações distintas. A ocupação ocorre de forma expansiva e, organizada a partir de diferentes séries de trabalhos, propõe ecossistemas interdependentes, mas capazes de narrativas autônomas.
A instalação central é construída a partir de tecidos impressos com desenhos, bordados, pinturas e objetos. Os fragmentos da instalação se relacionam diretamente com a matéria-prima — o desenho —, mas assumem escalas e dimensões distintas, convidando o espectador a adentrá-la. É também através das impressões em tecido que seu processo criativo pode ser ambientado: a apresentação de CELESTE, planeta fictício que, como lugar ainda desconhecido, reflete o desejo humano pela imagem, suas aproximações e distanciamentos. CELESTE, então, é a materialização de um vocabulário conceitual em território.
A exposição também apresenta uma série de trabalhos iniciados em 2018 em que o desenho é utilizado como ferramenta de tradução de dados cotidianos. Compostos por gráficos, curvas, setas e diagramas, eles investigam a naturalização das ordens de visualização do mundo. Sua transdisciplinaridade é evidenciada pela manipulação do desenho, da linguagem científica e da incorporação de técnicas de inteligência artificial e do campo digital como suporte para suas investigações. As séries de trabalhos desdobram-se sobre essas distribuições epistêmicas, tornando visível o que não é visível e compreensível o que não é figurativo.
Sobre sua prática, Luiza Crosman acrescenta: "Vários elementos se repetem nos meus desenhos. A informação diagramática passa uma informação, mas não é uma informação figurativa, então esses elementos se encontram em um território ambíguo, sendo um território do mundo contemporâneo, de como acessamos certas informações."
Tais características podem ser observadas na série Drawing Logistics. Ao incorporar materiais em circulação como papéis e embalagens de plástico, Luiza Crosman apresenta um inventário de ruídos e interferências, registro sistemático dos diferentes processos que atravessam e mediam a atividade humana atualmente. Novamente, o uso do desenho pode tanto traçar uma lógica existente como especular um caminho futuro, um sistema abstrato. Em uma segunda leitura, 'drawing' pode significar desenho e o gesto de desenhar. Um projeto, ou projetar algo.
Na série A Vidente, o imaginário construído a partir de imagens captadas por satélites revela a relação entre tecnologia e o desejo humano de previsão. É através dessas ferramentas que nossa cognição pode ser amplificada e, ao mesmo tempo em que são sujeitas a uma funcionalidade predeterminada, inscrevem também um tipo de leitura da informação. As impressões UV sobre ferro e adesivo são, então, testemunho dessa conjectura maquínica. A figura da Vidente é "dotada da faculdade de ver o futuro". Assim como os satélites, recolhe dados e entrega um tipo de informação especulativa, organizando diferentes elementos dentro de uma linguagem humana.
Por fim, é possível afirmar que em CELESTE, Luiza Crosman nos apresenta não apenas uma exposição, mas uma ambientação, que a partir de diversas materialidades e visualidades, subverte a informação tradicional. A redistribuição desse vocabulário visual encontra em suas imagens um reservatório de gestos e processos. Um acordo sobre tudo aquilo que já foi, e uma premonição sobre tudo aquilo que virá.