Tiago Mestre: Fogo Fumo

Junho 7 - Agosto 9, 2025

A Gomide&Co tem o prazer de apresentar Fogo Fumo, primeira individual de Tiago Mestre (Portugal, 1978) na galeria. A abertura acontece no dia 07 de junho (sábado), e a exposição segue em cartaz até 09 de agosto. O texto crítico é assinado por Veronica Stigger.

 

A exposição consiste em uma grande instalação site-specific, composta por diferentes conjuntos escultóricos em cerâmica, que ocupa toda o espaço expositivo da galeria. O artista parte de uma reflexão sobre a tradição da cerâmica portuguesa, com particular atenção para a longa tradição da olaria do Alentejo, onde nasceu e cresceu, propondo uma reelaboração que coloca em perspectiva aspectos históricos, sociais e culturais dos objetos.

 

Na exposição, Mestre trata de objetos que não estão mais numa condição estável, apresentando-se como vestígios de um ciclo interrompido no tempo. Uma viga de aço própria da construção civil atravessa o espaço expositivo e funciona como um eixo em torno do qual se organizam diferentes esculturas em cerâmica baseadas em peças utilitárias oriundas no universo da olaria popular de Portugal. As tipologias apresentadas pelo artista inspiram-se num vasto repertório de elementos utilitários populares, como cântaros, jarros, bilhas, ânforas, tigelas, copos e canecas, associados aos antigos espaços de convivência e consumo de álcool e tabaco, como a tasca, a adega e a venda. No entanto, Mestre interfere nas formas originais desses elementos, criando deformações que remetem à condição de embriaguez provocada pelo consumo das substâncias que tais utensílios costumam conter. Tal intervenção promove o deslocamento desses objetos de seu contexto cotidiano e utilitário para o universo da arte contemporânea, demarcando ao mesmo tempo indícios que remetem ao seu uso em determinada época e lugar.

 

Em articulação com esse conjunto de obras, a exposição apresenta também esculturas de cachimbos que remetem aos cachimbos de cerâmica branca produzidos em Londres entre meados dos séculos 16 e 19, com reminiscências até os dias de hoje e disseminados em outros centros urbanos na Europa. Mas os cachimbos de Mestre, por sua vez, apresentam uma configuração sinuosa, contorcida, que remete ao caráter volátil da própria fumaça. As fumaças também estão presentes na exposição, numa configuração não mais atmosférica, mas sim rochosa, quase que como um elemento fóssil. “Se, numa observação mais detida, percebe-se que esse conjunto de obras não constitui uma paisagem, permanece, no entanto, a sensação de caverna e de pré-história,” comenta Stigger em seu texto para a exposição.