Um dos mais importantes artistas do século XX, Leon Ferrari desenvolveu uma obra provocativa, singular, escorada na experimentação com suportes, materiais e mídias. Herdeira da imaginação surrealista, sua produção dialoga com a abstração, com a pop art e foi pioneira no conceitualismo. Constantemente questionando a violência do dogmatismo religioso e do autoritarismo latino-americano, o trabalho de Ferrari é uma referência na prática de tecer arte e política. Perseguido pela ditadura militar argentina, exilou-se no Brasil na década de 1970. Após sua morte em 2013 em Buenos Aires, Ferrari permanece influente e tema de uma crescente fortuna crítica.
Em 1955, realizou sua primeira mostra individual na Galleria Cairola, em Milão. Em 1960, expôs esculturas em cimento, gesso e madeira na Galería Galatea, em Buenos Aires. Em 1964, desenvolveu o conceito de “babelismo”, noção que alude, em suas esculturas, à Torre de Babel. Em 1965, a obra La civilización occidental y Cristiana foi inscrita no Premio Nacional e Internacional Instituto Torcuato Di Tella. A figura de Cristo crucificado em um caça-bombardeiro americano foi retirada antes da abertura da mostra sob as alegações de que era violenta e ofensiva.
A prática de León Ferrari é múltipla e utiliza diferentes linguagens, como desenho, escultura, colagem, assemblage, instalação, vídeo e escrita. A década de 1960 sinalizou os temas que caracterizaram sua obra: Arte, erotismo, religião e moral, bem como a repressão do Estado e as práticas de colonialismo e Imperialismo que institucionalizaram injustiças sociais. León Ferrari é, em todas as suas linguagens, um ativista e pesquisador incansável que questionou a normatização das estruturas de poder e a verticalidade das dinâmicas sociais.
Em 1976, mudou-se com a família para São Paulo fugindo do regime do ditador Jorge Rafael Videla. Permaneceu no Brasil até 1991. Durante sua permanência no Brasil, Ferrari integrou-se ao circuito de artistas interessados na revitalização de diferentes linguagens, engajados na produção de instrumentos musicais, concertos e arte postal.
Nas últimas décadas, cabe destaque, dentre suas mostras coletivas e individuais, à León Ferrari: Obras 1954-2004 realizada no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, exibida também pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2009. Em 2007, na ocasião da 51ª Bienal de Veneza, recebeu o prêmio Leão de Ouro pelo conjunto de suas obras. Em 2009 o Museum of Modern Art – MoMA (Nova York) abriu Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel,exposição dedicada aos trabalhos dos dois artistas. Ainda no mesmo ano e em 2010 a exposição circulou pela Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, Brasil) e no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madrid). L’Aimable Cruauté, ampla exposição retrospectiva dedicada à obra de León Ferrari, foi apresentada no Centre Pompidou (2022, Paris) e no Reina Sofia (2021, Madrid). No Brasil, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP exibiu, em 2016, a individual León Ferrari: Entre duas ditaduras.
Suas obras estão em importantes coleções institucionais, como o Centre Georges Pompidou, Paris; Daros Latinamerica Collection, Zurique; Ella Fontanals Cisneros Collection, Miami; El Museo del Barrio, Nova York; Walker Art Center, Minneapolis, Estados Unidos; The Museum of Modern Art – MoMA, Nova York; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires – MALBA, Buenos Aires; Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP; Museo de Arte Moderno, Cidade do México, entre outras.