Francisco Domingos da Silva, conhecido como Chico da Silva, nasceu em Alto Tejo, no estado do Acre, filho de um indígena peruano e de uma mulher cearense. O ano de seu nascimento, a partir da consulta de diferentes fontes, é inconclusivo, mas estima-se que o artista tenha nascido em 1910 (Fundação Bienal de São Paulo) ou 1922 (Catálogo de sua primeira mostra individual em Fortaleza, 1961; Estrigas, 1988). Chico da Silva, desde uma idade muito jovem, percorreu o Norte e o Nordeste do Brasil antes de assentar-se em Fortaleza, Ceará.

 

No início da década de 1940, iniciou seus desenhos a carvão e giz nos muros dos casebres da Praia Formosa. Em 1943, conheceu o pintor suíço Jean-Pierre Chabloz (1910-1984), que o integrou ao circuito de arte local. No mesmo ano, participou da coletiva Salão de Abril, seguida do 3º Salão Cearense de Belas Artes, em 1944. Barboza Leite, referindo-se à produção inicial de Chico em seu livro “Esquema da Pintura no Ceará” (1949), a descreveu da seguinte maneira “[...] as formas imprecisas, nebulosas, mas dosadas de uma intensidade poética a todo pano, dos quadros de F. Silva”.

 

Em 1945, Chabloz expôs pinturas de Chico da Silva ao lado de Antonio Bandeira (1922-1967) e Inimá de Paula (1918-1999) na Galeria Askanasy, no Rio de Janeiro. Nos três anos que se seguiram, o suíço realizou viagens esporádicas à Europa, retornando definitivamente ao continente em 1948. Chabloz empreendeu-se na divulgação da obra de Chico, realizando sua primeira mostra individual na Galerie Pour L'Art de Lausanne, em 1952. Em dezembro do mesmo ano, publicou o artigo “Un Indien brésilien ré-invente la Peinture [Um índio brasileiro reinventa a pintura]” na prestigiada revista de arte Cahiers D’Art, administrada por Christian Zervos.

 

A ida do amigo e protetor exerceu um grande impacto na produção de Chico da Silva, que durante a estadia de Chabloz na Europa realizou poucas exposições no Brasil. Dando continuidade à sua representação no exterior, participou, em 1956, da exposição Arts primitifs et modernes brésiliens no Museu Etnográfico de Neuchâtel, Suíça. O início da década de 1960 marcou o retorno de Chabloz ao Brasil por um curto período – o suíço retornaria à Europa em julho de 1960, onde permaneceu por dois anos –, o que facilitou a reinserção de Chico ao grupo de artistas de Fortaleza.

 

No dia 10 de abril de 1961, Chico da Silva abriu sua primeira mostra individual no país, que ocorreu na Sede dos Diários Associados de Fortaleza, onde apresentou dez trabalhos. No texto do catálogo apresentado pelo então governador Parsifal Barroso, suas “histórias misteriosas das selvas, onde os bichos e os acidentes da natureza interferem como se fossem criaturas humanas [...] representam a melhor fase do pintor, principalmente pelo colorido, imaginação e movimentação dos temas”.

 

Em 1959, Chico da Silva foi contratado pela UFC – Universidade Federal do Ceará para desenvolver as atividades do MAUC – Museu de Arte da UFC. Sua participação na Universidade durou até 1963, momento em que expôs na Galeria Relevo, no Rio de Janeiro, por intermédio de Jean Boghici (1928-2015). No mesmo ano, aproximou-se de Henrique Bluhm, que iniciou o processo de comercialização de sua obra. Foi nesse período que Chico da Silva estabeleceu sua imagem de Mestre da Escola do Pirambu, trabalhando ao lado de jovens artistas interessados em aprender o ofício da pintura. Em 1965, participou da exposição 8 peintres naïfs brèsiliens, na Galerie Jacques Massol, em Paris.

 

Em 1966, através dos esforços de Clarival do Prado Valadares, dono da Galeria Goeldi, Chico foi incluído na delegação que representou o Brasil na 33ª Bienal de Veneza, onde recebeu Menção Honrosa. No catálogo da exposição, sua obra é descrita a partir da técnica minuciosa que “seja no detalhamento como nas cores, reúne uma sofisticação do meio físico e subjetivo da pintura”. Em carta a Haroldo Juaçaba, Clarival descreveu a experiência de Veneza da seguinte maneira: “Lutei muito pelo Chico. Após ver os quatro quadros (painéis) expostos, Jacques Lanaipre me procurou às ocultas e me levou a mostrar a cinco membros do júri os trabalhos de Chico não expostos: exatamente aqueles doze guaches do Museu de Arte do Ceará. Foi uma revelação. Eles disseram que se o Brasil tivesse feito uma sala para o Índio, o resultado seria diferente”.

 

O final da década de 1960 é marcado por episódios em que diferentes aprendizes reivindicaram a autoria de suas obras, fazendo com que a saúde mental e física de Chico da Silva se deteriorasse. Em 1972, foi incluído na mostra Arte/Brasil/Hoje: 50 Anos Depois, na Galeria da Collectio, em São Paulo, seguida de sua participação na 1ª Bienal Latino-Americana de São Paulo, na Fundação Bienal, em 1978. Na última fase de sua carreira, Chico continuou a realizar exposições individuais e coletivas em diferentes estados brasileiros, passando por Recife, Brasília, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

 

Em 1983, por conta de uma trombose, sua saúde ficou completamente debilitada. Chico da Silva faleceu em Fortaleza, em 1985. Desde sua morte, é considerado um “gênio primitivista” no Brasil, e sua obra funde cosmologias populares do norte e nordeste do país. Sua preocupação com a exaltação da fauna e flora brasileira é evidente não apenas como elemento decorativo, mas como expressão formal da subjetividade orgânica da região Amazônica e suas complexidades.