Matrioshka

Setembro 19 - Outubro 31, 2020

Ao invés de um fim em si mesma, tratemos de ver a “exposição” como um instrumento ativo na produção e recepção da obra de arte. A exposição pode ser lida como uma constelação que articula esses dois binômios — produção e recepção — em torno dos sujeitos. Assim, são vozes, imagens, culturas, crenças e corpos num movimento determinado por regras, tradições e criações estabelecidas consensualmente por todos.

 

Segundo se represente a constelação, onde se encontra a artista, a obra, o público, a galeria, e a própria exposição no interior da exposição, todos são os elementos que constituem a Matrioshka, a exposição final em processo. Como linha de demarcação ou fronteira, a constelação pode funcionar no interior de uma cultura, como forma de organizar o tempo, e também pode servir para dividir e definir diversas linhas ou níveis da obra e das criadoras, i.e., as artistas aqui apresentadas.

 

Em cada linha e em cada tempo, a constelação é diferente, porque desde a representação da obra de arte, e seu complexo de subjetividades não verbais, as fronteiras são mais ou menos visíveis, dependendo do efeito que se busca. Teremos diversas linhas e tempos segundo quem diga “eu” na configuração da exposição coletiva, da exposição individual e das obras criadas como coletivo. E teremos também distintas linhas e tempos segundo o acidente ou impacto que se aplica a produção individual e coletiva, e a exposição que devora tudo dando assim origem a constelação.

 

A constelação Matrioshka na exposição não só nos serve para marcar linhas e tempos, mas nos leva a ler as ficções das obras aqui expostas, a correlação por vezes harmoniosas, mas também contraditórias, dos sujeitos implicados, dos estilos, das identidades, e do meio da arte. E numa quantidade de tempos, porque as crenças culturais não são sincrônicas com a divisão do tempo e do trabalho no meio da arte, arrastam estágios ou temporalidades anteriores e às vezes, até se poderia dizer, arcaicas.

 

 

* Projeto Vênus é a galeria de onde o curador Ricardo Sardenberg desenvolve os seus projetos