Myrrha Dagmar Dub nasceu em Zurique, na Suíça, e cresceu na Itália. Entre 1930 e 1936, iniciou sua prática em desenho através de cursos livres de arte. Em 1937, ingressou na Università Cattolica del Sacro Cuore e estudou Filosofia. Com o acirramento do fascismo e do antissemitismo no início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi obrigada a abandonar os estudos devido a um decreto-lei que proibia a inscrição de judeus estrangeiros nas escolas superiores. Em 1939, deixou a Itália e deslocou-se continuamente pela Europa em um período pouco documentado de sua história, passando pela Bulgária, Hungria, Viena, Croácia e Eslovênia.

 

Em 1944, passou a viver em Roma com o marido, o croata Jossip Hargesheimer. Trabalhou na Organização Internacional para Refugiados, que orientava a emigração dos chamados "deslocados de guerra" [displaced persons] para países das Américas. Com isso, Schendel e o Jossip partem, em 1949, em direção à Porto Alegre. No Brasil, dedicou-se aos estudos artísticos e produziu desenhos, esculturas e cerâmicas. Dedicou-se integralmente à pintura a partir de 1950, prática que, segundo a artista, a ela se impôs como uma questão de vida ou morte. Nessa fase, é notável a influência de Giorgio Morandi (1890-1964) sobre os temas e as paletas de suas telas.

 

Em 1951, sua participação na 1ª Bienal Internacional de São Paulo permitiu contatos internacionais e a sua inserção na cena artística contemporânea. Dois anos depois, em 1953, mudou-se para São Paulo e adotou o sobrenome Schendel. Em seus primeiros anos na cidade, aproximou-se do círculo de pensadores que logo se tornariam seus amigos e primeiros críticos: Mário Schenberg (1914-1990), Haroldo de Campos (1929-2003), Theon Spanudis (1915-1986) e Vilém Flusser (1920-1991). Em 1955, participou da 3ª Bienal de São Paulo.

 

Na década de 1960, seu trabalho voltou-se para investigações mais abstratas e menos figurativas. Ao ser presenteada com uma enorme quantidade de papel de arroz japonês, mergulhou em uma série de experimentações com o material. Em 1964, iniciou a série Monotipias, em que desenhava de forma peculiar sobre o papel de arroz. Em 1966, deu início à série Droguinhas, elaborada com papel de arroz retorcido e trançado. Em 1967, fez uso do acrílico como suporte e apresentou as séries Objetos Gráficos e Toquinhos. Em 1968, participou da 34ª Bienal de Veneza, na Itália.

 

Ao longo da década de 1970, seguiu suas investigações acerca do processo de “transparentização” do mundo e do tempo. Em 1974 criou a série Datiloscritos em que “desenhava” (datilografava) letras, sinais, palavras e sentenças com uma máquina de escrever de cilindro grande. Na década de 1980, recuperou vigorosamente seu interesse pela pintura. Produziu as têmperas brancas e negras, os Sarrafos e iniciou uma série de quadros com pó de tijolo e ouro.

 

Após sua morte, diversas exposições apresentaram sua obra dentro e fora do Brasil e, em 1994, a 22ª Bienal Internacional de São Paulo lhe dedicou uma sala especial. Em 1997, o marchand Paulo Figueiredo doou grande número de obras da artista ao MAM-SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 2007, suas obras participaram da documenta 12, em Kassel, na Alemanha. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as mostras individuais no Jeu de Paume, em Paris (2001); Tate Modern, em Londres (2013); e Pinacoteca do Estado de São Paulo (2014).