Art Basel Online Viewing Room

Junho 19 - 26, 2020 

Nos estandes da Bergamin & Gomide, sempre buscamos reproduzir algo da experiência de estar em casa, de modo que o visitante se sinta acolhido e convidado a ficar um pouco mais. Aliás, ficar em casa neste momento tem sido uma redescoberta do que nela somos e podemos ser: o que nos agrada, onde bate sol, onde é bom de se deitar? Gaston Bachelard diz que fazemos morada onde conseguimos nos sentir à vontade, encolhidos. Se durante a feira o tempo voa, lidamos com o entra e sai no estande, filas e correria, aqui, no ambiente virtual, é aberta a possibilidade de se estabelecer um contato próprio com as obras pelo tempo que for necessário. Mesmo sem o calor humano e as anedotas que contamos nos encontros ao vivo, aqui propomos aconchego por meio de obras que transmitem organicidade e despertam a nossa memória coletiva ao dialogarem, direta ou indiretamente, com os nossos ancestrais. Dessa forma, ao integrarmos à lista peças utilitárias de diversas etnias indígenas do território brasileiro, como povos do Xingú, da tribo dos Karajás, entre outros, desejamos reverenciar etnias que estão sob ataque e ainda mais vulneráveis durante essa pandemia – estar em casa é também entrar em contato com as nossas origens.

 

Madeira, fogo, pele, lona, juta – eis alguns dos materiais que constituem e intervêm nos trabalhos. Elementos primordiais que acordam nossos instintos e imaginação como o padrão que aparece entre as peças que compõem o Transportável (2003) de Artur Barrio. Obra que, por sua vez, apresenta intensa interlocução com a escultura Da pele (1975), de Tunga, onde bucha, arame e madeira são atravessados por um termômetro que parece querer nos dizer: isso tem calor. Mira Schendel também nos aquece com seus tons terrosos na série Bordados – e José Leonilson, ao recortar buracos na lona, abre brechas para a passagem da luz em Tenso (1986).

 

As investigações geométricas de Celso Renato sobre a superfície irregular da madeira remetem aos grafismos que encontramos nas peças indígenas expostas, como o banco Assurini – e, igualmente, ao formato das telas 14/85 (1985) e 11/92 (1992) de Manfredo de Souzanetto. As obras banhadas de luz de Sérgio Camargo e Sol LeWitt, por sua vez, nos demandam um tipo específico de atenção: o branco pede que nos concentremos sobre o movimento que ascurvas e ângulos nos sugerem, sem distrações. LeWitt diz que, ao fazer seus Open Cubes, investiga modos de não fazer um cubo enquanto está a fazê-lo, em um belo exercício de reelaboração da forma em si mesma. Camargo, ao conjugar ordem e desordem em seus cilindros de madeira recortados e desencontrados, cria tensões partindo, justamente, da neutralidade que o branco traz. Por fim, o standing-mobile de Alexander Calder equilibra todo esse rigor trazendo uma abordagem lúdica na experimentação da forma, combinando em Petit Mobile sur Pied (1953) a vibração das cores quentes e a leveza das linhas e das placas de metal entregues para o vento: como já disse Mário Pedrosa, Calder não só sugere o movimento, ele o capta.

 

Este é o nosso estande imaginário que, assim como o Museu Imaginário de André Malraux, foi concebido para se compor e recompor a partir da inventividade do visitante, que circulará entre as obras sem paredes. Este espaço visa recebê-lo o mais calorosamente possível, levando inspiração neste período em que o afeto, a paciência e a permanência se fazem tão necessários. Entre e fique à vontade.