SP—Arte 2025

Abril 2 - 6, 2025 
Booth A02

Para a 21a edição da SPArte, a Gomide&Co apresenta uma seleção de obras baseada no diálogo visual entre as diversas formas de abstração que marcam a América Latina, transitando entre o geométrico e o orgânico com ênfase em aspectos e elementos presentes na cultura e identidade da região e que reverberam em outras partes do mundo. A relação com a terra e com práticas tradicionais é um eixo central da proposta, no que a seleção dedica especial atenção para o universo da cerâmica, entre outras práticas manuais, como a tapeçaria. O projeto expográfico é do escritório de arquitetura entre terras (Jaqueline Lessa), com mobiliário desenvolvido por Lucas Recchia.


A seleção parte de cerâmicas produzidas pelas culturas Nazca (100 a.C. – 800 d.C.) e Moche (100 – 700 d.C.), ambas localizadas na região dos Andes, combinadas a artistas que desenvolveram suas obras em diálogo, direto ou não, com tradições consideradas não hegemônicas nos circuitos de arte moderna e contemporânea. Entre tais artistas, destaca-se Eduardo Chilida (Espanha, 1924–2002), basco de origem, cuja produção em escultura e gravura é marcada pela tensão entre o orgânico e o geométrico. A partir da década de 1970, residindo na França, Chilida desenvolve uma série de obras chamada Lurra (terra), na qual se utiliza da argila chamote com que teve contato no local.


Destaque também para Megumi Yuasa (Brasil, 1938), que apresenta especialmente para o projeto uma sequência inédita de esculturas em cerâmica da sua série de árvores. Referência nostálgica à figueira que marcou sua infância, as obras variam em pequena e média escalas e apresentam tons terrosos que se relacionam com o gradiente de cores oferecido pela argila. Maria Lira (Brasil, 1945) também se destaca na seleção com obras inéditas da sua série Bichos do sertão, pinturas com pigmento mineral de animais imaginários que compõem um vasto bestiário formal e refletem a diversidade de cores da terra na paisagem sertaneja.


Reminiscências da infância também estão presentes na escultura Femme (2004), em que Louise Bourgeois (França, 1911 – EUA, 2010) revisita sua famosa série de desenhos Femme Maison (1946-47). No caso, a artista elabora uma nova linguagem escultórica baseada em operações que atravessam sua história familiar – os atos de cortar, costurar e estofar –, apresentando uma criatura feita de retalhos de tecido, com costuras aparentes, que oscila entre a figuração e o disforme. A costura e o bordado também estão presentes nas obras de Leonilson (Brasil, 1957–1993) a partir da década de 1980, sugerindo cartografias de aspecto lúdico que remetem a aspectos autobiográficos e questões de ordem subjetiva e existencial.


Entre fins dos anos 1950 e princípios dos 1960, Mira Schendel (Suíça, 1919 – Brasil, 1988) desenvolve obras que exploraram a materialidade do traço e a gestualidade como forma de expressão. Ao conferir uma dimensão gestual e aleatória a um léxico de figuras vagamente geométricas, a artista subverte noções de ordem formal. Na mesma época, a artista também inicia uma extensa série de monotipias marcada pela síntese formal, onde linhas e signos reverberam uns sobre os outros. A seleção também inclui Adriana Varejão (Brasil, 1964) com uma obra da série Ruína de Charque, iniciada nos anos 2000. Inspirada na tradição barroca e no imaginário colonial, a artista combina fragmentos de azulejos portugueses com volumes escultóricos que simulam carne exposta, evocando a brutalidade da história colonial brasileira. A obra remete a ruínas arquitetônicas que, ao serem destruídas, revelam um interior visceral, sugerindo um corpo mutilado.


A seleção inclui: Francisco Brennand (Brasil, 1927–2019); Louise Bourgeois (França, 1911 – Estados Unidos, 2010); Seyni Awa Camara (Senegal, 1945); Esther Carema (Comunidade Indígena Nivacle, 1991); Eduardo Chilida (Espanha, 1924–2002); Nicolai Dragos (Romênia, 1931 – Brasil, 2020); Chen Kong Fang (China, 1931 – Brasil, 2012); León Ferrari (Argentina, 1920–2013); Julia Isidrez (Paraguai, 1967); José Leonilson (Brasil, 1957–1993); Maria Lira (Brasil, 1945); Amadeo Luciano Lorenzato (Brasil, 1900–1995); Antonio Ballester Moreno (Espanha, 1977); Nilda Neves (Brasil, 1961); Norberto Nicola (Brasil, 1930–2007); Ediltrudis Noguera (Paraguai, 1965); Abraham Palatnik (Brasil, 1928–2020); Celso Renato (Brasil, 1919–1992); Mira Schendel (Suíça, 1919 – Brasil, 1988); Shoko Suzuki (Japão, 1929); Tunga (Brasil, 1952–2016); Adriana Varejão (Brasil, 1964); Alfredo Volpi (Brasil, 1896–1988); Megumi Yuasa (Brasil, 1938).